Você quer ter filhos? Processo de decisão entre mulheres e homens heterossexuais brasileiros

Autores

  • Jade Wagner Bernardes Universidade Federal do Rio Grande do Sul
  • Angela Helena Marin Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Palavras-chave:

Tomada de decisão, Parentalidade, Motivos, Brasil

Resumo

O presente estudo teve como objetivo identificar e comparar os motivos relacionados a intenção de ter ou não ter filhos ou de adiar a parentalidade entre mulheres e homens heterossexuais. Realizou-se um estudo exploratório e comparativo, de abordagem mista, do qual participaram 278 indivíduos que estavam em relacionamento heterossexual há, no mínimo, três anos ou coabitando há três meses. Eles responderam ao Questionário de Dados Sociodemográficos e a Escala de Motivos Face à Parentalidade. O desejo de ter filhos foi expresso por 166 participantes, enquanto 60 relataram que não queriam e 52 que não sabiam. Dentre os motivos para não ter filhos, os que não desejavam ou estavam indecisos pontuaram mais nas dimensões de interferência no estilo de vida e antecipação de problemas, enquanto os que desejavam ter filhos pontuaram mais nas escalas de enriquecimento emocional e reconhecimento social. Complementarmente, a análise temática revelou a influência de modelos sociais tradicionais e contemporâneos quanto a intenção de ter ou não filhos, refletindo ambivalências e dúvidas associadas à variáveis individuais, relacionais e socioeconômicas, sinalizando a complexidade do processo de tomada de decisão quanto a parentalidade.

Biografia do Autor

Jade Wagner Bernardes, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Psicóloga (Universidade do Vale do Rio dos Sinos) e Mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atua como terapeuta de casais e familiar e como supervisora clínica. Tem experiência prática e de pesquisa em psicologia clínica e do desenvolvimento humano e familiar, atuando principalmente nos seguintes temas: processo de mudança em psicoterapia sistêmica, prática terapêutica sistêmica, família e processos de prevenção e promoção de saúde, motivação para a parentalidade e satisfação conjugal.

Angela Helena Marin, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Psicóloga (Universidade Federal de Santa Maria), mestre e doutora em Psicologia (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Atualmente, é pesquisadora (Pq/CNPq) e professora dos cursos de graduação e pós-graduação em psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Possui experiência em psicologia clínica e do desenvolvimento humano e familiar, atuando principalmente nos seguintes temas: desenvolvimento socioemocional na infância e na adolescência, família e processos clínicos de prevenção e promoção da saúde.

Referências

Albano, N. C (2015). Conhecimentos sobre fertilidade, motivações para a parentalidade e atitude frente a doação de gametas e gestação de Substituição em Jovens Adultos [Dissertação de Mestrado, Instituto Superior Miguel Torga]. Repositório do Instituto Superior Miguel Torga. http://repositorio.ismt.pt/handle/123456789/562

Almeida-Santos, T., Melo, C., Macedo, A., & Moura-Ramos, M. (2017). Are women and men well informed about fertility? Childbearing intentions, fertility knowledge and information-gathering sources in Portugal. Reproductive Health, 14(91), 1-9. https://doi.org/10.1186/s12978-017-0352-z

Alvarez, B. (2018). Reproductive decision making in Spain: Heterosexual couples’ narratives about how they chose to have children. Journal of Family Issues, 39(13), 3487-3507. https://doi.org/10.1177/0192513X18783 Ambrosetti, E., Angeli, A., & Novelli, M. (2021). Childbearing intentions among Egyptian men and women: the role of gender-equitable attitudes and women’s empowerment. Demographic Research, 44, 1229-1270. https://doi.org/10.4054/DemRes.2021.44.51

Ashburn-Nardo, L. (2017). Parenthood as a moral imperative? Moral outrage and the stigmatization of voluntarily childfree women and men. Sex roles, 76(5-6), 393-401. https://doi.org/10.1007/s11199-016-0606-1 Barbiero, E. B., Baumkarten, S. T. (2015). Somos pais, e agora? A história de nós dois depois dos filhos. Pensando Famílias, 19(1), 32-45. Bernardes, J. W., & Marin, A. H. (2023). Individual and Relational Factors Associated to the Childbearing Intentions of Brazilian Women and Men. Marriage & Family Review, 59(6), 412-437. https://doi.org/10.1080/01494929.2023.2175101 Bernardi, D., Féres-Carneiro, T., & Magalhães, A. S. (2018). Entre o desejo e a decisão: a escolha por ter filhos na atualidade. Contextos Clínicos, 11(2), 161-173. http://dx.doi.org/10.4013/ctc.2018.112.02 Bernardi, D., Mello, R., & Carneiro, T. F. (2019). Ambivalências frente ao projeto parental: vicissitudes da conjugalidade contemporânea. Revista da SPAGESP, 20(1), 9-23. Biernacki, P., & Waldorf, D. (1981). Snowball sampling: Problems and techniques of chain referral sampling. Sociological methods & research, 10(2), 141-163. https://doi.org/10.1177/0049124181010002 Biffi, M., & Granato, T. M. M. (2017). Projeto de ter filhos: uma revisão da literatura científica nacional e internacional. Temas em Psicologia, 25(1), 207-220. http://dx.doi.org/10.9788/TP2017.1-14Pt. Blackstone, A. (2014). Doing family without having kids. Sociology Compass, 8(1), 52-62. https://doi.org/10.1111/soc4.12102

Bhambhani, C., & Inbanathan, A. (2020). Examining a non-conformist choice: The decision-making process toward being childfree couples. International journal of sociology, 50(5), 339-368. https://doi.org/10.1080/00207659.2020.1797265

Blackstone, A., & Stewart, M. D. (2016). “There’s More Thinking to Decide” How the Childfree Decide Not to Parent. The Family Journal, 24(3), 296-303. https://doi.org/10.1177/10664807166486

Bodin, M., Holmström, C., Plantin, L., Schmidt, L., Ziebe, S., & Elmerstig, E. (2021). Preconditions to parenthood: changes over time and generations. Reproductive Biomedicine & Society Online, 13, 14-23. https://doi.org/10.1016/j.rbms.2021.03.003

Bogdan, I., Turliuc, M. N., & Candel, O. S. (2022). Transition to parenthood and marital satisfaction: A meta-analysis. Frontiers in Psychology, 13, 901362. https://doi.org/10.3389/fpsyg.2022.901362 Braun, V., & Clarke, V. (2006). Using thematic analysis in psychology. Qualitative research in psychology, 3(2), 77-101. https://doi.org/10.1191/1478088706qp063oa Carmichael, G. A., & Whittaker, A. (2007). Choice and circumstance: Qualitative insights into contemporary childlessness in Australia. European Journal of Population/Revue europeenne de demographie, 23(2), 111-143. https://doi.org/10.1007/s10680-006-9112-4 Castro, R., & Tapia, J. (2021). Health, childlessness and poverty in Latin American countries. Cadernos de Saúde Pública, 37(1), e00248919. https://doi.org/10.1590/0102-311X00248919

Coelho, I. M., de Souza, D. C., & da Silva, I. R. (2020). Características do relacionamento conjugal de casais que optaram por não ter filhos. Nova Perspectiva Sistêmica, 29(67), 56-69. https://doi.org/10.38034/nps.v29i67.559 Edin, K., & Kefalas, M. (2011). Promises I can keep: Why poor women put motherhood before marriage. University of California Press. Frisén, A., Carlsson, J., & Wängqvist, M. (2014). “Doesn’t Everyone Want That? It’s Just a Given” Swedish Emerging Adults’ Expectations on Future Parenthood and Work/Family Priorities. Journal of Adolescent Research, 29(1), 67-88. https://doi.org/10.1177/0743558413502537 Gold, J. M. (2013). The experiences of childfree and childless couples in a pronatalistic society: Implications for family counselors. The Family Journal, 21(2), 223-229. https://doi.org/10.1177/1066480712468264 Harrington, R. (2019). Childfree by choice. Studies in Gender and Sexuality, 20(1), 22-35. https://doi.org/10.1080/15240657.2019.1559515

Hashemzadeh, M., Shariati, M., Mohammad Nazari, A., & Keramat, A. (2021). Childbearing intention and its associated factors: a systematic review. Nursing Open, 8(5), 2354-2368. https://doi.org/10.1002/nop2.849 Hertz, R. (2006). Single by chance, mothers by choice: How women are choosing parenthood without marriage and creating the new American family. Oxford University Press Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2016). Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira. http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv98965.pdf Koropeckyj-Cox, T., Çopur, Z., Romano, V., & Cody-Rydzewski, S. (2018). University students’ perceptions of parents and childless or childfree couples. Journal of Family Issues, 39(1), 155-179. https://doi.org/10.1177/0192513X15618993 Kreyenfeld, M., & Konietzka, D. (Eds.). (2017). Childlessness in Europe: contexts, causes, and consequences. Springer. Lazzari, E. (2021). Pathways into childbearing delay of men and women in Australia. Longitudinal and Life Course Studies. Bristol University Press. https://doi.org/10.1332/175795921X16197735939121 Leal, D. F. S., & Zanello, V. (2022). “Não Tenho Filhos e Não Quero”: Questões Subjetivas Implicadas na Opção pela Não Maternidade. Revista Psicologia e Saúde, 14(3), 77-92. https://doi.org/10.20435/pssa.v14i3.1949 Liefbroer, A. C. (2005). The impact of perceived costs and rewards of childbearing on entry into parenthood: Evidence from a panel study. European Journal of Population/Revue Européenne de Démographie, 21(4), 367-391. https://doi.org/10.1007/s10680-005-2610-y Lima, R. A., & Alves, I. C. B. (2010). As particularidades da (in) satisfação conjugal antes e depois da chegada dos filhos. Boletim Academia Paulista de Psicologia, 30(79), 424-439.

Lorenzo-Echeverri, L. N. (2020). Exploring the Experience of Married Couples Making the Decision of Whether or Not to Have a First Child [Tese de Doutorado, Nova Southeastern University]. Repositório da Southeastern University https://nsuworks.nova.edu/shss_dft_etd/58.

Maldonado, M. T., Dickstein, J., & Naohum, J. C. (1996). Nós estamos grávidos. Saraiva.

Matias, M., & Fontaine, A. M. (2013). Desenvolvimento e validação factorial da Escala de Motivos face à Parentalidade. Paidéia (Ribeirão Preto), 23(54), 9-20. https://doi.org/10.1590/1982-43272354201303

Matias, M., & Fontaine, A. M. (2017). Intentions to Have a Child: A Couple‐Based Process. Family Relations, 66(2), 231-243. https://doi.org/10.1111/fare.12250

Matias, M., Silva, A., & Fontaine, A. M. (2011). Conciliação de papéis e parentalidade: Efeitos de género e estatuto parental. Exedra: Revista Científica, (5), 57-76. Matos, M. G. D., & Magalhães, A. S. (2014). Tornar-se pais: sobre a expectativa de jovens adultos. Pensando famílias, 18(1), 78-91. Sassler, S., Miller, A., & Favinger, S. M. (2009). Planned parenthood? Fertility intentions and experiences among cohabiting couples. Journal of Family Issues, 30(2), 206-232. https://doi.org/10.1177/0192513X08324114 Guedes, M., Carvalho, P. S., Pires, R., & Canavarro, M. C. (2011). Uma abordagem qualitativa às motivações positivas e negativas para a parentalidade. Análise Psicológica, 29(4), 535-551. https://doi.org/10.14417/ap.102 Nomaguchi, K. M., & Milkie, M. A. (2003). Costs and rewards of children: The effects of becoming a parent on adults' lives. Journal of marriage and family, 65(2), 356-374. https://doi.org/10.1111/j.1741-3737.2003.00356.x Nomaguchi, K., & Milkie, M. A. (2020). Parenthood and well‐being: A decade in review. Journal of Marriage and Family, 82(1), 198-223. https://doi.org/10.1111/jomf.12646 Organização das Nações Unidas (ONU) (2019). World Population Prospects 2019: Highlights. https://population.un.org/wpp/publications/files/wpp2019_highlights.pdf Organização das Nações Unidas (ONU) (2020). World Fertility and Family Planning 2020: Highlights.https://www.un.org/en/development/desa/population/publications/pdf/family/World_Fertility_and_Family_Planning_2020_Highlights.pdf Peterson, H. (2015). Fifty shades of freedom. Voluntary childlessness as women’s ultimate liberation. Women’s Studies International Forum, 53, 182–191. https://doi.org/10.1016/j.wsif.2014.10.017 Peterson, H., & Engwall, K. (2013). Silent bodies: Childfree women’s gendered and embodied experiences. European Journal of Women’s Studies, 20(4), 376–389. https://doi.org/10.1177/1350506812471338 Pourreza, A., Sadeghi, A., Amini-Rarani, M., Khodayari-Zarnaq, R., & Jafari, H. (2021). Contributing factors to the total fertility rate declining trend in the Middle East and North Africa: a systemic review. Journal of Health, Population and Nutrition, 40(11), 1-7. https://doi.org/10.1186/s41043-021-00239-w

Przybylska, E. M., & Wajsprych, D. (2019). Experiencing parenthood in early adulthood. Family Forum, 9, 151-172. Riggs, D. W., & Bartholomaeus, C. (2016a). “It’s just what you do”: Australian middle-class heterosexual couples negotiating compulsory parenthood. Feminism & Psychology, 28(3), 373-389. https://doi.org/10.1177/0959353516675637 Riggs, D. W., & Bartholomaeus, C. (2016b). The desire for a child among a sample of heterosexual Australian couples. Journal of Reproductive and Infant Psychology, 34(5), 442-450. https://doi.org/10.1080/02646838.2016.1222070

Riggs, D. W., Worth, A., & Bartholomaeus, C. (2018). The transition to parenthood for Australian heterosexual couples: expectations, experiences, and the partner relationship. BMC Pregnancy and Childbirth, 18(342), 1-9. https://doi.org/10.1186/s12884-018-1985-9

Rios, M. G., & Gomes, I. C. (2009). Casamento contemporâneo: revisão de literatura acerca da opção por não ter filhos. Estudos de Psicologia, 26(2), 215-225. https://doi.org/10.1590/S0103-166X2009000200009 Rybińska, A. (2020). Trends in intentions to remain childless in the United States. Population Research and Policy Review, 40(4):1-12. https://doi.org/10.1007/s11113-020-09604-9 Sampieri, R., Collado, C., & Lucio, M. (2013). Metodologia de pesquisa (5 ed.). Penso.

Settle, B., & Brumley, K. (2014). 'It’s the Choices You Make That Get You There': Decision-Making Pathways of Childfree Women. Michigan Family Review, 18(1), 1-22. https://doi.org/10.3998/mfr.4919087.0018.102 Shapiro, G. (2014). Voluntary childlessness: A critical review of the literature. Studies in the Maternal, 6(1), 1-15. https://doi.org/10.16995/sim.9 Sørensen, N. O., Marcussen, S., Backhausen, M. G., Juhl, M., Schmidt, L., Tydén, T., & Hegaard, H. K. (2016). Fertility awareness and attitudes towards parenthood among Danish university college students. Reproductive Health, 13(1), 1-10. https://doi.org/10.1186/s12978-016-0258-1 Stahnke, B., Blackstone, A., & Howard, H. (2020). Lived Experiences and Life Satisfaction of ChildFree Women in Late Life. The Family Journal, 28(2), 159-167. https://doi.org/10.1177/1066480720911611 Varas, G. V. V., & Borsa, J. C. (2021). Predictor variables of childbearing motivations in Brazilian women and men. Paidéia (Ribeirão Preto), 31. https://doi.org/10.1590/1982-4327e3112

Downloads

Publicado

23.12.2023

Como Citar

Bernardes, J. W., & Marin, A. H. (2023). Você quer ter filhos? Processo de decisão entre mulheres e homens heterossexuais brasileiros. Revista Da SPAGESP, 24(2), 54–67. Recuperado de https://nesme.emnuvens.com.br/SPAGESP/article/view/62

Edição

Seção

Artigo de Pesquisa